terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Deixem os mortos em paz

Imagem retirada a internet
Ainda me espanto com a capacidade da mídia em explorar tragédias. Esmiuçar as feridas alheias, consternar ainda mais toda uma nação. A trágica queda do avião virou uma novela nos telejornais. E os telespectadores esperam ansiosos a virada de cada capítulo. Não sei se choro, se tomo um balde de cerveja e esqueço isso tudo ou sigo assistindo minha série favorita: Naruto, o cabeça oca que luta pra salvar seus amigos. Enfim, só sei que hoje, depois de vir a estagiária lendo mais uma notícia sobre a queda do avião que vitimou jornalistas e jogadores de futebol, involuntariamente disse: Deixem os mortos em paz.
Não aguento tanto espetáculo e superexposição das pessoas em troca de audiência.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

O sagrado bar

Fonte: www.jvicttor.com.br
O bar deve ser um lugar sagrado. Estava pensando nisso um dia desses. Democrático todo mundo sabe que é, mas ele vai além disso. O bar guarda segredos, revela outros, é ambiente de alegria e dor. Você passeia por histórias de amizade e companheirismo até a mais absoluta tristeza e solidão. O bar recebe todas as dores, todos os amores, todos os amantes, todos os santos, todos. Semana passada vi uma senhora sentada num bar sozinha tomando a sua cerveja e curtindo aqueles bregas das antigas. Não parecia feliz nem triste. Estava exatamente onde queria estar. O bar era de beira de feira, com um trânsito de pessoas e carros infernal, com homens jogando bilhar e falando alto, com bêbados jogados num canto e outros estirados nas mesas, e ela lá, sozinha, nem alegre nem triste. O bar deve ser um lugar sagrado, até mais sagrado do que lugares que se dizem casa do Divino. O bar aceita todos sem questionar, é o abrigo dos sem destinos, é o ponto de chegada dos destinados. 

terça-feira, 10 de maio de 2016

A palavra e a insanidade

Imagem retirada da internet
O Brasil vive um momento de profundas crises; a política é a mais falada, porém a pior é a crise da interpretação das palavras, que poderia ser chamada também de crise ética, moral e/ou educacional. Observamos pessoas sem o menor pudor em interpretar as palavras da maneira que convém à elas. Sem se preocupar com contextos, pistas literárias ou dicionários. Cada um dá o sentido que quer para as palavras e o outro que se vire pra interpretar ou reinterpretar do jeito que der. Não há limites, a barreira do bom senso já foi ultrapassada há tempos. Lembro que fui a um seminário este ano em que o palestrante falava sobre a disputa pelo significado. A comunicação na era digital (e das redes sociais) vive numa luta constante pelo significado que melhor ampare suas ideias. Recriar significações faz parte da estratégia. As palavras estão tomando sentidos estritamente ideológicos que a depender de quem lê ganha sentidos diferentes. Trocando em miúdos, dependendo se a pessoa é da esquerda ou da direita a palavra GOLPE tem sentidos diferentes. Não, amigo, não depende do contexto, depende de como a pessoa QUER interpretar, não das pistas textuais ou entrelinhas. É bem verdade que um texto não é uma obra acabada em si mesma. A pessoa que o ler dará mais ou menos sentido a ele dependendo de sua bagagem cultural, da sua biblioteca interna, porém isso não é a mesma coisa de forçar qualquer interpretação. Exemplo: Ana é uma menina linda. O que a frase diz? Que Ana é linda e; do gênero feminino (uma menina). O que a frase diz nas entrelinhas? Que Ana não é feia e não é do gênero masculino (um menino). Simples, né? Então, aí você vai aos comentários de uma matéria qualquer em que a manchete diz, por exemplo: O Brasil é um país corrupto, e no corpo da matéria tem uma lista dos partidos mais corruptos e descobrimos que TODOS estão envolvidos em corrupção e o que você lê na maioria dos comentários??? Tchãrã!!! Culpa do PT! É claro que depois desse texto vão me chamar de Petralha ou coisa do gênero, mas isso não me incomoda porque sei que a pessoa não está racionalizando o sentido literal do texto. Ela está pensando de maneira ideológica somente, o que não é ruim, o problema é o somente. 
Quando falamos de política a ideologia impera, porém não podemos negar a realidade nem nos deixar manipular pelas interpretações alheias sem a nossa reflexão profunda. Argumentação não é só uma palavra bonita ou esquisita, dependendo do vocabulário de cada um, argumentar é a arte de refletir sobre o que era, é e será, debater fatos e ideias. O que está muito longe da realidade online brasileira. Não se discute ideias contrárias para se chegar a uma conclusão, a ordem é menosprezar o argumentante expondo sua vida e a ridicularizando. Nada de reflexão sobre ideias. Tudo de birra e raiva. É dolorido mudar, seu sei, mas é importante para o crescimento intelectual e espiritual. A sociedade agradece, o futuro melhor também. Esse avanço é bem melhor que o tecnológico, pois até para desfrutarmos bem da tecnologia é preciso ter o cérebro ampliado e exercitado.
As palavras tem poder e o que vemos hoje é seu uso insano e promíscuo. Fernando Veríssimo disse em uma crônica que usava as palavras da maneira que quisesse, que vivia delas e era delas gigolô. A diferença que Veríssimo embeleza as vistas, nos leva a reflexão da rotina do cotidiano, desfaz das palavras porque delas sabe o que fazer. Ao contrário de muitos cafetões por aí que as agridem e empobrecem seu viver.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Precisamos de silêncios

Ontem, um amigo me disse que eu precisava escrever todos os dias. Ele sempre visita o blog e não tem nada novo (esses dias). Aqui acontece um misto de sensações: raivinha, lisonjeio, reflexão. Verdade, um blog pra ter sucesso precisa ser atualizado todos os dias. Obrigada por ler minhas postagem. Vamos falar de silêncios, respectivamente.
 Hoje, temos muita informação e pouco conhecimento. Quase nada fica gravado em nossa memória de verdade. As informações são absorvidas aos pedaços e esquecidas num segundo. Tudo é importante e nada tem importância. Abrimos várias janelas com manchetes que nos chamaram a atenção e não lemos quase nada, e o pior é que tem muita gente que ainda sai comentando sobre a matéria sem sequer ter lido o conteúdo!  
É preciso silenciar nossas bocas, olhos e mentes. A última requer muito mais treino e meditação, mas vale a tentativa.
Os silêncios são importantes e dizem muita coisa. Dizem até que eu não tenho ou não quero dizer nada ou, simplesmente, quero destacar a postagem anterior. Quero que ela fique mais tempo na linha do tempo para reflexão. 
Parar e refletir está se tornando cada dia mais um luxo. Nós estamos mais esquizofrênicos, acelerados, reticentes, gagos, variantes, com um vocabulário reduzido tanto de palavras quanto de sentidos, porque não paramos um pouquinho pra silenciar e pensar.

Imagem retirada da internet
     

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Os heróis anônimos que não são notícia

Domingo, 10, aconteceu um incêndio no bairro Ypê, Zona Norte da cidade de Macapá. Muita gente viu essa matéria nos noticiários locais. Mãe e filha foram resgatadas da casa em chamas e a polícia estava a procura da suspeita de incendiar o imóvel. Fim da notícia. O supra sumo da desgraça já estava no ar, vamos a próxima.
Machado, Caranguejo, Jhonatan, Magrão e Bio. Facção Abutres Macapá. Foto: Emília Borges
O que muita gente não sabe é que na casa ao lado da que foi incendiada havia um grupo de amigos fazendo um churrasco e comemorando a mudança de um deles pra aquele bairro. Logo que o fogo começou - e as vizinhas começaram a gritar pedindo socorro - o grupo de amigos correu para ver o que estava acontecendo e ao perceber a fumaça e o desespero das mulheres que diziam haver gente dentro da casa os rapazes começaram a ação de salvamento. Pegaram pernamanca (pedaço grosso de madeira) e tentaram arrombar a grade de ferro da porta que estava trancada com um cadeado grande pelo lado de fora. Demoraram um pouco para retirarem a grade e ainda que o fizessem com agilidade era impossível tirar as vítimas por ali. A sala estava tomada pelo fogo. Acharam uma pequena janela no fundo do imóvel e lá viram filha e mãe pedindo ajuda. A mãe, Eva Costa, protegia a menina do fogo e, enquanto os rapazes quebravam o telhado e o forro da casa, ela pedia pra salvarem a filha dela. Primeiro a filha saiu, depois a mãe.
Em meio a agonia, os vizinhos foram chegando e trazendo baldes com água para apagar o fogo. O Corpo de Bombeiros não demorou muito pra chegar, mas quando chegaram no local as vítimas já haviam sido salvas e o incêndio contido. 
Ninguém noticiou a ação dos rapazes, nem a polícia investigativa os interrogou para saber como tudo aconteceu. 
Pessoas comuns arriscando as vidas para salvarem outras pessoas deve ser notícia sim, é pauta positiva, é bom exemplo. É restauração da fé na humanidade, não é assim que diz o bordão?
Ah, o encontro dos amigos era uma reunião da Facção Abutres Macapá. Abutres é um motoclube reconhecido internacionalmente que tem como umas de suas filosofias a atitude e a responsabilidade social.

Bio Vilhena e o SD BM Geraldo. Foto:Leon Cardoso
Finalizando, informamos que Eva Costa, a mãe, está em estado grave no Hospital de Emergência, teve cerca de 70% do corpo queimado. O incêndio foi criminoso motivado por ciúmes, de acordo com informações de vizinhos que criaram um grupo no whatsApp pedindo Justiça para Eva. A autora se apresentou à polícia e aguarda o desenvolvimento das investigações em liberdade.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

7 de janeiro é Dia do Leitor

Como hoje é o Dia do Leitor nada melhor pra fazer do que indicar um livro, né? Então, lá vai: MAUS de Art Spiegelman é o livro da vez. 
Já faz um tempo que eu li, mas ainda me lembro das sensações vividas lendo ele. Eu ria e chorava ao mesmo tempo. Num capítulo risos noutro lágrimas... O enredo conta a história real do pai do autor, um judeu polonês que viveu e sobreviveu ao horror do holocausto de Hitler. 
O livro é escrito em sequência (quadrinhos) e utiliza técnica de antropoformismo, ou seja, ele personifica animais, ou melhor, ele animaliza pessoas. Exemplo: Ele retrata os judeus como ratos, os alemães como gatos, os poloneses como porcos e por aí vai... A ironia é a grande sacada desse jogo!
Vale muito a pena ler. Não vou contar muitos detalhes da história pra não perder a graça. Emoção, risadas e reflexões não vão faltar, eu garanto.

Ah! Só a título de curiosidade, MAUS em alemão significa RATOS. Aí em português esse título nos remete a maldade, homens maus e tals que ficou bem bacana também.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O sadismo nosso de cada dia

Hoje vi um vídeo de um assaltante sendo espancando por um mototaxista em Macapá, salvo engano, foi na zona norte da cidade. Sem entrar no mérito da questão de que se tratava de um bandido que acabara de assaltar e esfaquear uma mulher e evitar a fadiga de ler comentários do tipo "adote um bandido", eu pergunto: de onde vem esse prazer mórbido em espalhar vídeos de pessoas sendo espancadas, ou toda ensanguentada, humilhada, dilacerada? Será que Freud explica? O que acontece no cérebro dessas pessoas? Tem tratamento? Ou, como diria Eliane Brum, atingimos a burrice máxima?

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Dr. Sin em Macapá


Festival cultural Paralelo Universo traz à Macapá a banda de hard rock Dr. Sin. O evento acontecerá dia 12 de fevereiro na Sede Trem Desportivo Clube. 


Venda de ingressos a partir desta quinta-feira, 07. 


Ei, os primeiros ingressos estão na promoção e participam do sorteio de duas guitarras autografadas pelo guitarrista Edu Ardanuy!


Te agenda aí que o carnaval é no rock, bebê!



Sobre o festival
Paralelo Universo é uma iniciativa do produtor cultural Bio Vilhena e está em sua primeira edição. O festival é um encontro multicultural que traz em sua essência uma referência histórica em festivais de Arte e Cultura Alternativa. O encontro agrupa grandes amantes envolvidos nesse movimento: artistas visuais (tatuadores, desenhistas, pintores, escultores), músicos, escritores, visionários e apreciadores da diversidade, intensamente inspirados pelo pacifismo e celebração do congraçamento cultural democrático entre os povos.

Ano Novo, vida nova!

Pelo menos é o que queremos quando o ano inicia, né não? Então vamos lá, deixa de lado a preguiça, trace apenas algumas metas (e tente cumpri-las!) e renove-se sempre que puder. Gosto da ideia de renovação, que o ano acaba e recomeça assim num segundo, deixa a impressão que a vida pode ser reiniciada, que o que passou passou e pode ficar para trás, afinal, é Ano Novo! Não deixe que os negativistas joguem água na sua bolacha de pensamentos positivos deste início de ano. Vá correr, vá visitar os parentes distantes, peça desculpas, deseje a paz mundial. Quem sabe de tanto pensar, isso entre na sua cabeça de modo tão forte que você não acaba conseguindo mesmo? 



Para iniciarmos bem este blog e 2016, deixo um poema de Drummond.


Carlos Drummond de Andrade. Foto/Internet















RECEITA DE ANO NOVO
Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo 
até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 


pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.


(Carlos Drummond de Andrade)