terça-feira, 10 de maio de 2016

A palavra e a insanidade

Imagem retirada da internet
O Brasil vive um momento de profundas crises; a política é a mais falada, porém a pior é a crise da interpretação das palavras, que poderia ser chamada também de crise ética, moral e/ou educacional. Observamos pessoas sem o menor pudor em interpretar as palavras da maneira que convém à elas. Sem se preocupar com contextos, pistas literárias ou dicionários. Cada um dá o sentido que quer para as palavras e o outro que se vire pra interpretar ou reinterpretar do jeito que der. Não há limites, a barreira do bom senso já foi ultrapassada há tempos. Lembro que fui a um seminário este ano em que o palestrante falava sobre a disputa pelo significado. A comunicação na era digital (e das redes sociais) vive numa luta constante pelo significado que melhor ampare suas ideias. Recriar significações faz parte da estratégia. As palavras estão tomando sentidos estritamente ideológicos que a depender de quem lê ganha sentidos diferentes. Trocando em miúdos, dependendo se a pessoa é da esquerda ou da direita a palavra GOLPE tem sentidos diferentes. Não, amigo, não depende do contexto, depende de como a pessoa QUER interpretar, não das pistas textuais ou entrelinhas. É bem verdade que um texto não é uma obra acabada em si mesma. A pessoa que o ler dará mais ou menos sentido a ele dependendo de sua bagagem cultural, da sua biblioteca interna, porém isso não é a mesma coisa de forçar qualquer interpretação. Exemplo: Ana é uma menina linda. O que a frase diz? Que Ana é linda e; do gênero feminino (uma menina). O que a frase diz nas entrelinhas? Que Ana não é feia e não é do gênero masculino (um menino). Simples, né? Então, aí você vai aos comentários de uma matéria qualquer em que a manchete diz, por exemplo: O Brasil é um país corrupto, e no corpo da matéria tem uma lista dos partidos mais corruptos e descobrimos que TODOS estão envolvidos em corrupção e o que você lê na maioria dos comentários??? Tchãrã!!! Culpa do PT! É claro que depois desse texto vão me chamar de Petralha ou coisa do gênero, mas isso não me incomoda porque sei que a pessoa não está racionalizando o sentido literal do texto. Ela está pensando de maneira ideológica somente, o que não é ruim, o problema é o somente. 
Quando falamos de política a ideologia impera, porém não podemos negar a realidade nem nos deixar manipular pelas interpretações alheias sem a nossa reflexão profunda. Argumentação não é só uma palavra bonita ou esquisita, dependendo do vocabulário de cada um, argumentar é a arte de refletir sobre o que era, é e será, debater fatos e ideias. O que está muito longe da realidade online brasileira. Não se discute ideias contrárias para se chegar a uma conclusão, a ordem é menosprezar o argumentante expondo sua vida e a ridicularizando. Nada de reflexão sobre ideias. Tudo de birra e raiva. É dolorido mudar, seu sei, mas é importante para o crescimento intelectual e espiritual. A sociedade agradece, o futuro melhor também. Esse avanço é bem melhor que o tecnológico, pois até para desfrutarmos bem da tecnologia é preciso ter o cérebro ampliado e exercitado.
As palavras tem poder e o que vemos hoje é seu uso insano e promíscuo. Fernando Veríssimo disse em uma crônica que usava as palavras da maneira que quisesse, que vivia delas e era delas gigolô. A diferença que Veríssimo embeleza as vistas, nos leva a reflexão da rotina do cotidiano, desfaz das palavras porque delas sabe o que fazer. Ao contrário de muitos cafetões por aí que as agridem e empobrecem seu viver.